Crítica: Uma Noite Fora de Série
10 abril 2010
1 testemunhas
Date Night, EUA , 2010 – 88 min. Comédia. 12 anos
Direção: Shawn Levy
Com: Steve Carell, Tina Fey, Mila Kunis, Mark Wahlberg, James Franco, Mark Ruffalo, Ray Liotta
A série The Office, exibida no Brasil pelo canal FX mostrou-se pra mim uma grata surpresa. Passei muito tempo ouvindo a respeito, mas sem muita coragem de conferir. Sabem como é, medo do hype. Mas foi nessa série que eu me dei conta do imenso talento de Steve Carrel em interpretar o tipo esquisitão beirando o maníaco. Quando assisti os longas Todo Poderoso 2 e Agente 86 vi que a expressão de palerma e as esquisitices persistiam como cacoetes do ator, forçando um pouco algumas cenas desnecessariamente. Teríamos um colega para Jim Carrey? Mas no light Uma Noite Fora de Série vemos que o padrão de Carrel em sempre parecer deslocado funciona, talvez por influência da amalucada Tina Fey - produtora, roteirista e protagonista do também hypado seriado 30 Rock e ex-integrante do notório Saturday Night Live.
A impressão que eu tive foi justamente essa: o filme é leve, a história é despretensiosa, mas todos os atores estão à vontade. É o que salva. A trama se passa em torno dos Fosters, um casal estressado de classe média que mora em New Jersey, tem dois filhos e está bastante longe de seus dias de "pombinhos". O casamento sofre de um marasmo inevitável, a rotina tomou conta da relação e até o prato que costumam pedir no restaurante que frequentam parece ser o mesmo há muito tempo. Aí está o espaço para caretas de desconforto, risos amarelos de conformação, e algumas piadinhas com a relação. A eterna palermice de Carrel e o jeito estabanado de Tina Fey casam com perfeição ao clima.
Tentando fazer alguma coisa diferente, que escape da rotina massacrante, eles decidem ir a um restaurante chique no centro de Nova York, ignorando a necessidade de reservas. Sem perspectiva de conseguirem mesa, eles fingem ser outras pessoas, os Triplehorn, e acabam conseguindo o jantar. Mas é óbvio que isso acarretaria consequências, e eles descobrem que o casal é procurado numa trama de chantagem que envolve um poderoso criminoso local. É a deixa para o improvável: um casal "insosso" , como a personagem de Tina diz, tendo que fugir da morte e descobrir a lógica da situação em que se meteram.
As participações especiais no longa também se fazem assim, leves, descompromissadas. O filme pertence à dupla Carell/Fey, e apesar das aparições, não há nenhuma subtrama que o torne mais complexo. Superficial, você diria? Talvez. Mas os atores, ícones da comédia estaduniense e super conceituados por lá, são o foco da trama. É tudo previsível, mas se tenta tirar o melhor de alguns momentos. Dessa maneira, temos Ray Liotta sendo o mafioso canastrão, James Franco, o amigo de Peter Parker como o vigarista barato, e Mark Wahlberg descamisado gerando alguns comentários impagáveis.
O que não convence muito são os perseguidores do casal, bandidos que seriam responsáveis pela tensão mas que são tão sem carisma que passam batido pela trama maluca. É uma pena, pois o potencial dos tiroteios e perseguições é diminuído em muito, e nos parece durante certa altura que o casal foge de uma ameaça fantasma, sem personificação real. E essa falta de personificação acaba por paralisar a trama em alguns momentos, já que não se pode confiar um roteiro inteiro apenas na força dos comediantes. Esse, aliás, é o mal do qual sofrem quase todos os filmes dos atores de Saturday Night Live. O final previsível também não ajuda muito, mas é compreensível levando em consideração o estilo e o público do longa.
Sem maiores destaques, Uma Noite Fora de Série parece ter sido produzido numa grande diversão. Vamos arrancar dinheiro dos espectadores ancorando o longa nas costas de Carrel e Fey, mas vamos aproveitar o passeio, devem ter dito os produtores. A prova disso são os takes que passam durante e depois dos créditos finais, mostrando que algumas falas são completamente diferentes entre um e outro, num esquema de improviso do tipo "o que ficar melhor a gente coloca". É o tipo de cinema leve pra ver com a namorada, a esposa, ou mesmo com aquela amiga que está na mira. Mas cuidado com as discussões de relacionamento depois.
Cena do Crime sugere: vá quando tiver assistido todos os outros.
O filme é ótimo, dá para rir do começo ao fim, ao menos comigo foi assim, mas talvez eu estivesse em um dia bom pra rir, quem sabe. As cenas impossíveis tornam o filme mais hilário ainda, tem algumas cenas muito sem noção, e é bem verdade que "nos parece durante certa altura que o casal foge de uma ameaça fantasma, sem personificação real." O filme é beeem leve mesmo, recomendado para uma sessão da tarde.