Atenção Todas as Unidades! #1 – Uma Família da Pesada
Sim, estas são as dicas rápidas do Cena do Crime!
Você conhece Family Guy? Não? E pelo nome em português, Uma Família da Pesada?
Ok, não é um desenho muito popular por aqui. Mas antes que você venha com "Ah, não! Deve ser alguma coisa bem 'cabeça', ou que só os nerds entendem!", saiba que você está enganado. Apesar do nome ridículo adotado pela tradução no Brasil - que novidade - é simplesmente um dos desenhos mais controversos e geniais que eu já tive o prazer de assistir. Tudo é feito com escracho, e nada - eu disse nada - possui valor moral ou lição. Muitos consideram o desenho mais grosseiro, escatológico e polêmico que existe. Arrisco dizer que perto de Uma Família da Pesada, os garotos de South Park não passam de bons moços.
"Então, isso presta?" Bom, aí depende.
Criada em 1999 pelo desenhista, escritor e dublador Seth McFarlane, a animação que aborda o cotidiano da família Griffin na pequena cidade de Quahog é uma crítica pesada não apenas ao modo de vida americano, mas aos seres humanos em geral. O mote é basicamente satirizar, rebaixar e destruir qualquer conceito social a que estamos acostumados. Peter e sua família vivem situações absurdas, que assim como em Os Simpsons, começam de maneira improvável. A diferença é que eles escancaram temas delicados como racismo, homofobia e religião em seus episódios. Mas não apenas isso. Drogas, sexo - consentido ou não -, violência, pedofilia e alcoolismo entram no roteiro de uma maneira desenfreada, numa espiral de situações insólitas. Tudo evolui em tramas que muitas vezes servem apenas para apontar esses assuntos de maneira irrestrita, e que no fim não levam a lugar nenhum.
Num belo exemplo exemplo, o "cara de família" Peter Griffin leva seu filho de um ano à academia para ficar mais forte, já que o pequeno andou apanhando na rua. Eis que surge um cara e oferece ajuda com uma seringa de anabolizantes. Peter responde:
- Claro! Se tem alguém em quem posso confiar é em um estranho na academia com uma seringa suja!
Non-sense é pouco. Mas essa é a mente de Peter Griffin. E o resultado:
Em outra situação, ao visitar uma loja de discos, Peter exclama para o balconista barbudo: "Ó meu Deus! Você é Jesus Cristo! O messias!" Ao passo em que o vendedor, resignado, responde: "Ok, sou eu mesmo". E era! É esse tipo de diálogos e situações que fazem do desenho a maluquice que é.
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Nem as celebridades de Hollywood ou os políticos americanos escapam de serem retratados de maneira cruel. As referências à cultura pop também são muitas, e não é difícil encontrar referências a filmes clássicos, seriados e músicas famosas - algumas vezes interpretadas pelos personagens.
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Os diálogos são completamente non-sense, e fazem uso de um recurso explorado à exaustão para surpreender o espectador: os flashbacks repentinos que não acrescentam nada à trama, e estão lá apenas para funcionarem como piadas cruéis em cada fala.
Entre os personagens, tipos bizarros se disfarçam em esteriótipos de pessoas normais. Peter Griffin - dublado pelo próprio criador do desenho - é bem mais estúpido que nosso conhecido Homer Simpson. Sua esposa Lois não lembra em nada as amorosas mães dos seriados que conhecemos. O casal de filhos mais velhos em nada lembra o conceito de pestinha e nerd com o qual nos habituamos, na verdade Chris é estúpido como o pai, e Meg é a personagem mais humilhada e mal-tratada em toda a história dos desenhos animados. O filho mais novo, Stewie, é um bebê que fala e interage com os outros de igual pra igual, mas possui um quê de gênio do mal e é alvo de inúmeras piadas sobre homossexualidade. E Brian, o cachorro da família é mais humano e inteligente que todos os outros juntos.
Os coadjuvantes são um espetáculo à parte: tem o deficiente físico azarado que sempre se dá mal, o negro de fala mansa e senso de humor duvidoso, o vizinho tarado, o velhinho pedófilo... Todos preparados pra dizer alguma bobagem e te fazer pensar: "como eles deixam passar isso na tv?"
Mas aí é que está o frescor de Uma Família da Pesada. A coragem de externar aquelas piadas que nós apenas pensamos e não dizemos em voz alta, e a língua afiada que atinge qualquer um, não importa a nacionalidade, raça ou religião, e nos mostra o quão patéticos, contraditórios e previsíveis todos nós somos.
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É como se pegassem nosso lado mais amoral e caótico, compactassem em um projétil e disparassem a cada 10 segundos em nossa cara. Tem quem não goste? Sim, creio que a grande maioria público acharia sem graça e forçado demais. Mas não é um desenho feito para a maioria do público, e principalmente: não é um desenho feito para ser levado a sério, apenas para disparar nossa consciência e nos fazer rir de nós mesmos.
Se você gosta de caricaturas impiedosas e de situações que fogem dos clichês, vale a pena dar uma olhada.
Infelizmente a série, que está em sua 9ª temporada, é exibida atualmente no Brasil apenas pelo canal pago FX. A Globo exibia episódios pela madrugada, mas foram cancelados no começo deste ano após sofrerem algumas censuras. A opção para quem ficou curioso e não tem FX são os dvds lançados até a 8ª temporada, mas você também pode encontrar ótimos vídeos da família Griffin no youtube e decidir se é o tipo de ofensa que lhe agrada.
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